Investigação química e farmacológica de espécies vegetais do Cerrado em modelos experimentais de infecção pelo vírus da dengue tipo 2 e tipo 3

Meio Ambiente e Saúde

As epidemias de dengue tornaram-se um fator preocupante para as autoridades sanitárias, pois estas ocorrem de maneira sucessiva, além de apresentar um fator altamente preocupante da introdução de novos sorotipos em regiões antes não afetadas. No ano de 2008, a re-introdução do DENV2 deparou-se com uma população não imune a esse vírus, mas apresentando contato prévio com o DENV3, o que acarretou um aumento dos casos considerados graves. A gravidade em pacientes com histórico de infecções prévias é explicada pela teoria da facilitação imunológica, onde anticorpos não neutralizantes via ligação a porção Fc dos receptores de imunoglobulinas estimulam a síntese de IL-10 e SOCS que resulta em quebra da homeostasia imunológica. Neste sentido, diversas plantas medicinais têm demonstrado serem úteis para atuar neste sistema, por mecanismo de regulação da produção de citocinas. Por exemplo, existem demonstrações da atividade imunorreguladora in vitro sobre monócitos infectados, de frações de Uncaria tomentosa e Uncaria guianensis (Reis et al., 2008). Estes resultados preliminares demonstram a participação efetiva de plantas medicinais como fonte de novas moléculas e medicamentos potenciais para uso na terapêutica. Estima-se que aproximadamente 40% dos medicamentos disponíveis hoje em dia foram desenvolvidos direta ou indiretamente a partir de fontes naturais, sendo 25% de plantas (Calixto, 2003). A maioria das espécies vegetais existentes é encontrada nos países tropicais, estimando-se que por volta de 25% ocorram originalmente no Brasil. Estes números justificam a opção de se investir nos estudos da biodiversidade – no presente caso aquelas plantas medicinais que ocorrem especificamente na região do Cerrado brasileiro – como uma valiosa estratégia para descobrir e desenvolver produtos inovadores. Outro elemento favorável ao estudo de plantas medicinais está na introdução recente de duas políticas públicas, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF); a primeira definindo as prioridades e a introdução de fitomedicamentos no SUS, e a segunda focando o desenvolvimento de estudos de validação, de metodologias, de tecnologias e de fitoderivados para atender a esta demanda, agregando valor à biodiversidade e estimulando a cadeia produtiva.

Assim, pesquisas que enfoquem a investigação de espécies vegetais com potencial imunorregulador, em especial em doenças de interesse na saúde pública, como é o caso da infecção da dengue estão forte e seguramente inseridas no escopo das Políticas Públicas em saúde e de Ciência e Tecnologia que vigoram atualmente no país.

Portanto, os objetivos do presente projeto apresentam relevância para a saúde pública, pois o referido trabalho objetiva a investigação da eficácia terapêutica de extratos e frações quimicamente caracterizados, isoladas de espécies vegetais do bioma Cerrado e Pantanal na infecção de dengue tipo 2 e dengue tipo 3, utilizando para tal modelo experimental animal. É importante salientar que as metodologias propostas no presente projeto são validadas e aceitas internacionalmente. A implantação destas metodologias no estado representará sua inserção no contexto da utilização de modernas tecnologias aplicadas à saúde.