Fiocruz MS discute sobre SAÚDE ÚNICA NO PANTANAL

06 de Fevereiro de 2023

O conceito de Saúde Única (One Health) é um conceito cada vez mais presente na ciência e com perspectivas de consolidação integrando diferentes áreas, numa abordagem participativa, multiinstitucional e setorial, integrando várias disciplinas, com o objetivo de alcançar resultados de saúde ideais, reconhecendo a interconexão entre pessoas, animais, plantas e seu ambiente compartilhado (FAO, 2021).

O Pantanal brasileiro, é uma extensa planície inundável no extremo Oeste do país, que ocupa áreas importantes nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além das fronteiras com Paraguai e Bolívia. Apesar da baixa densidade demográfica, nota-se intensa movimentação de pessoas (migrantes, turistas) uma rica biodiversidade, rotas de aves migratórias e a economia baseada, principalmente, em atividades agropecuária e extração mineral, além da produção extrativista e familiar. Esse complexo e dinâmico conjunto de fatores citados, acrescidos da ocorrência de eventos climáticos e antrópicos intensos, faz do Pantanal, um desafio perfeito para as atividades relacionadas à Saúde Única.

Nesse contexto, o Pantanal surge como área estratégica para a vigilância em saúde e as limitações impostas pela sua extensão, dinâmica natural e difícil acesso pedem uma ação compartilhada de diferentes setores e uso de tecnologias e ferramentas que integrem essas pessoas com o propósito de detectar a emergência de ameaças à saúde e auxiliem na tomada de decisões e estratégias mitigatórias.

Com o objetivo de fortalecer a vigilância integrando a participação das comunidades nas decisões para a sustentabilidade do território por meio da tecnologia SISS-Geo (Sistema de informação em saúde silvetre), integrado ao SUS; formar profissionais para atuação na perspectiva “One Health” e iniciar rede de dados e banco de amostras biológicas estratégicos para prospecção e apoio ao desenvolvimento nacional de insumos para a saúde, aprovado o Projeto “Saúde Única no Pantanal: Participação da sociedade na vigilância de emergência de zoonoses como efeito pós-incêndios no território e formação de estratégias integradas de prevenção e controle”, coordenado pela Fiocruz (RJ) em parceria com Fiocruz (MS), Embrapa Pantanal, Centro de Informação em Saúde Silvestre – CISS, Universidade do Estado de Mato Grosso e Sesc Pantanal.

Como parte desse projeto, aconteceu entre os dias 27/06/2022 a 01/07/2022, o Seminário “Saúde Única no Pantanal: Participação da Sociedade na vigilância de emergência de zoonoses como efeito pós-incêndios no território e formação de estratégias integradas de prevenção e controle”, com atividades nas cidades de Campo Grande, Corumbá e Ladário.

O primeiro momento do seminário (27/06) ocorreu em Campo Grande - MS, no Auditório da Faculdade de Medicina - FAMED da UFMS. Estiveram presentes gestores e profissionais da saúde, pesquisadores, representantes da Polícia Militar Ambiental do Estado, e da Sociedade Civil (Instituto Arara Azul, Instituto de Conservação de Animais Silvestres, Projeto Tatu Canastra, Projeto Ariranha), profissionais da Unidade de Controle de Zoonoses (UCZ) do município, professores e alunos, entre outros.

Apresentados pela Dra. Marcia Chame, da Plataforma Institucional Biodiversidade Saúde Silvestre da Fiocruz, os objetivos do Projeto buscam integrar as ações de vigilância participativa e integrada da ocorrência de zoonoses e contaminações ambientais no Pantanal; oficinas de treinamento para a ampliação do uso do SISS-Geo como ferramenta tecnológica de monitoramento da fauna com a participação da sociedade e diversos setores, além da discussão sobre os subsídios necessários para criação de rede de dados e informação de amostras biológicas.

A mesa de abertura, apresentada pela pesquisadora Alexsandra Favacho da Fiocruz Mato Grosso do Sul, contou com a participação da Secretária Adjunta de Estado de Saúde, Dra. Christinne Maymone; da Coordenadora Estadual de Saúde Única do Mato Grosso do Sul, Dra. Danila Frias; da Vice-Coordenadora de Pesquisa da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Dra. Zoraida Fernandez e da representante da Embrapa Pantanal, Dra. Raquel Juliano.

Na parte da manhã reuniu palestras do Dr Marcelo Wada, Coordenador Geral de Zoonoses do Ministério da Saúde, que abordou a situação e as ações realizadas do MS sobre Zoonoses na Saúde humana no Brasil e no Pantanal; a Dra. Amanda Amaral da Coordenação Geral de Vigilância Ambiental do Ministério da Saúde, apresentou o tema da Vigilância Ambiental no Pantanal; Dr Rafael Ovídio Gerente Estadual de Zoonoses do Mato Grosso Sul, Zoonoses na perspectiva da Vigilância da saúde humana no Mato Grosso do Sul; e Sofia Caumo, Pós-doutora ENSP/Fiocruz sobre Avaliação de risco à saúde humana – incêndios no Pantanal.

 No período da tarde foi realizada uma oficina para capacitação do uso do Sistema de Informação em Saúde Silvestre - SISS-Geo da Fiocruz (https://www.biodiversidade.ciss.fiocruz.br/), disponível em smartphones e na web, para o monitoramento da saúde dos animais silvestres em ambientes naturais, rurais e urbanos. Essa ferramenta torna possível, a partir de registros realizados por cidadãos comuns, profissionais de saúde, meio ambiente, pesquisadores e especialistas em vida silvestre, ações de prevenção e controle de zoonoses, além de integrar atores para o fortalecimento do conceito de Saúde única.

Em paralelo a oficina, aconteceu uma Roda de Conversa sobre a formação de Rede de dados e informações de amostras biológicas da biodiversidade, com potencial de uso compartilhado para estudos diversos na área de saúde.

No dia 29 o evento teve uma edição em Corumbá, no Auditório III do Campus do Pantanal CPAN/UFMS, organizado em parceria com o Programa de Pós-graduação em Estudos Fronteiriços (PPGEF/UFMS). A abertura do evento contou com a presença do Dr. Carlo Golin, representando a direção do CPAN e a coordenação do PPGEF; Dra. Alexsandra Favacho e Dra. Raquel Juliano, representando a Fiocruz MS e a Embrapa Pantanal, respectivamente.

Estiveram presentes gestores em saúde do município (UCZ e Secretaria de Saúde), Defesa Civil, Polícia Militar Ambiental, estudantes, professores, pesquisadores, além de colegas da Bolívia que atuam em atividades agropecuária e sanidade animal.

As palestras ministradas pela manhã incluíram a participação da Dra. Walkiria Arruda (Médica Veterinária SMS/UCZ) falou sobre as zoonoses de importância na fronteira Brasil/Bolívia, Dr. Hilton Alves Filho Médico Infectologista – SMS) esclareceu sobre esporotricose humana em Corumbá e Dra Luciana Escalante (Gestora Ambiental, CPAN/UFMS) explicou o impacto das queimadas na saúde e ambiente. Dra Sofia Caumo e Dr. Marcelo Wada também replicaram suas palestras para o público local. A oficina para capacitação e uso do SISS-Geo, ocorreu a tarde nesse mesmo local.

No dia 30/06 foi a vez de apresentar aos nossos convidados a comunidade que vive na APA da Baia Negra (Ladário-MS), a primeira Unidade de Conservação de Uso Sustentável criada no Pantanal onde além das atividades de pesca e agricultura familiar, os moradores têm se preparado para atuar no turismo de base comunitária. A equipe do projeto fez a oficina para capacitação e uso do SISS-Geo e a conversa entre os participantes resultou em motivação para ações futuras e importantes.

Graças ao apoio e a parceria da Ecoa, Ecologia e Ação (https://ecoa.org.br/), foi possível replicar a oficina do SISS-Geo na comunidade ribeirinha da Barra do São Lourenço, no dia 01/07, a equipe subiu pelo Rio Paraguai por aproximadamente 5 horas e teve a oportunidade de conhecer e interagir com algumas pessoas da comunidade, reconhecendo o local em que vivem.

Essa experiência foi enriquecedora para todos e prospecta um cenário promissor em parceria com diferentes segmentos e atores que atuam no Pantanal Sul. Estas atividades são coordenadas pela Fiocruz Mato Grosso do Sul, Embrapa Pantanal e Plataforma Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz e Universidade do Estado de Mato Grosso, SESC Pantanal e Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Fotos: Pedro Zeno PIBSS/Fiocruz